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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Desmistificando o imobilismo negro - Parte II - A literatura negra

*A Negra, de Tarsila do Amaral. Escolhi essa obra antes de falar da identidade negra propositalmente, pois desde criança essa foi uma obra que me incomodava muito. Tarsila, filha de um latifundiário, produziu esta tela enquanto estudava em Paris, e provavelmente, tentou expor aquilo que mais viu no Brasil o olhar triste dos negros em contraste com o colorido do fundo tropical brasileiro, a apatia do rosto em contraposição a defesa quase infantil do corpo, a exibição do corpo do mesmo modo que se exibe um objeto sobre a mesa. A negra está sentada no chão? É ela um objeto, um animal? As pernas cruzadas em proteção contra o abuso sexual? Talvez. Era comum a fazendeiros engravidarem esposas e estuprarem suas mucamas para engravidá-las, na mesma época, para terem amas de leite para seus filhos. Talvez por isso o enorme seio exposto.

Desmistificando o imobilismo negro - Parte II - A literatura negra
Para Zilá Bernd (1987), assim como a contribuição do negro foi essencial para a música brasileira, assim o foi para a literatura, acredito ainda eu que, a literatura brasileira negra construiu-se para além do caráter de mero transplante do que era produzido na Europa, como bem foi o romantismo como as escolas literárias anteriores, para a construção de um teor mais crítico de poesia, análise e histórias. Cabe ressaltar que a autora considera, e com ela concordo, a ''literatura negra'' não apenas aquela produzida por um autor negro, para ela ''poderão ser considerados como literatura negra aqueles textos em que houver um eu enunciador que se quer negro, que reivindica sua especificidade negra" (BERND, 1987, p.16) que não é mera "epidermalização''.
Entre obras mencionadas pela autora entre as que discutem a construção de uma identidade negra estão:
Lévi-Strauss, Race et histoire; Roger Bastide, A poesia afro-brasileira; Thales de Azevedo, de A possibilidade de uma literatura afro-brasileira, em Democracia Racial; Hélio Jaguaribe, em Raça, cultura e classe; Luís Gama, em Trovas Burlescas.

Entre as obras mencionadas pela autora que constroem críticas acerca da formação de uma ideia de identidade negra, que muitas vezes se mostra errônea, estão:
Miriam Mendes Garcia, em A personagem negra no teatro brasileiro, que relata a construção deste personagem durante o período escravocrata; Teófilo de Queiroz, com o Preconceito de cor e a mulata na literatura brasileira, que analisa a forma estereotipada com que autores como Jorge Amado, Manuel Antônio de Almeida e João Guimarães Rosa, construíram uma ideia de mulher negra; Raymond Sayers, com Onze estudos de literatura brasileira, que revisa as obras de autores negros como Machado de Assis e Cruz e Souza, e a obra de ''redenção'' negra de Castro Alves; Kabengele Munanga, com Negritude: usos e sentidos, em que este coloca em conflito o sentido da identidade negra, discutindo se está é uma questão de identidade física ou de consciência opressiva.


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